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    quinta-feira, setembro 18, 2014

    Pequena sketch de uma tragédia familiar

    - Que isso, pai?
    - Fiz uma sopa pra gente... Senta aqui... Vamos conversar um pouco...
    - Claro, pai!
    (e ele dá esse sorriso...)
    - É em agradecimento de você estar tomando conta de mim nesses meses...
    (nossa, que sopa ruim...)
    - Tá ótima a sopa, pai! Obrigada!
    - É em agradecimento por você estar cuidando de mim nesse último ano...
    (agora é só sorrir... melhor nem falar nada... esperar para ver se ele para de se repetir...)
    -Sabe, filha... Eu não vou durar muito mais, não...


    (o que eu vou dizer?)


    Que isso, pai! Tenho certeza que você ainda vai estar comigo muitos anos! Nem fala nisso! Crê em Deus Pai!
    (é, vai morrer mesmo... mas eu não posso dizer isso para ele... ele vai ficar arrasado... olha como ele está sorrindo, agora...)

    - Acho que não, filhinha. Acho que vou morrer rápido...
    (o que eu queria te dizer é que te amo, mas não consigo ficar mais presa ao seu sofrimento, pai. tem quase um ano que eu só faço cuidar da sua dor e do seu sofrimento. queria que você descansasse...)
    - Posso te contar uma coisa, filhinha?
    - Eu sempre estou aqui para te escutar, pai!
    (eu já estou com quase 20 anos! você não entende que eu queria descansar e curtir um pouco? talvez viajar?)
    - Quando meu pai morreu, eu sofri muito...
    (e agora ele vai começar a falar das memórias... eu não queria que ele estivesse doente... eu queria que ele vivesse para sempre, é claro! mas não assim. não com todo esse sofrimento!)
    - Eu era um pouco mais velho, tinha uns 30... Você já era viva, mas não deve se lembrar. Devia ter menos de 2 anos na época...
    (e, para ser sincera comigo mesma, essas histórias são um saco... ainda bem que posso olhar para ele com interesse e emoção, enquanto me refugio nos meus pensamentos...)
    - Foi de repente. Ataque cardíaco. Ele estava em pé e, no instante seguinte, est...
    (hi, my name is... i'm a little lost because is my first time in germany and i don't speak german. can you help me, mr. bowie? thank you...)
    - Eu ainda dependia muito dele...
    (you're such a good kisser, david... of course I'll go with you to the Schloss Bensberg... é isso mesmo que é aquele hotel famoso?)
    - Minha vida nunca mais foi a mesma... Fiquei devastado... Nada mais foi plenament...
    (ele percebeu que eu arrotei? acho que não... ia quebrar o clima da história dele...)
    - Você também acha?


    - É claro, pai. Triste demais... O que foi?
    - Muita dor no braço...
    - No esquerdo?! Deixa eu ligar para o socorro!
    - Não! Não... Eu estou bem... Vamos acabar de conversar... Você também ficaria arrasada se eu morresse, não é?
    - Eu vou ficar arrasada, pai! Vai ser difícil demais!
    - Não seria melhor se você morresse sem ter que passar por isso?
    - É claro, pai. Eu te amo demais!
    (olha que sorrisão!)
    - Que bom, então.
    - O que é bom, papai?
    - Eu envenenei sua sopa...






    (minha língua está dormente...)