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    domingo, outubro 09, 2005

    LICENÇA POÉTICA

    Eu confesso: detesto blogs de pessoas que, sem terem o quê dizer, ficam citando poemas de escritores conhecidos. Mas, como diz um cineasta famoso, sempre citado por um amigo querido, "não me peçam coerência, porque eu sou um artista".
    Hoje, peço licença para transcrever um poema da Adélia Prado, uma das minhas escritoras favoritas e que sempre me supreende com a beleza de seus versos.
    Peço desculpas ao Gu, meu amado marido e sócio de blog, pela ousadia (não pude consultá-lo, pois ele dorme profundamente).

    TEMPO

    "A mim que desde a infância venho vindo
    como se o meu destino
    fosse o exato destino de uma estrela
    apelam incríveis coisas:
    pintar as unhas, descobrir a nuca,
    piscar os olhos, beber.
    Tomo o nome de Deus num vão.
    Descobri que a seu tempo
    vão me chorar e esquecer.
    Vinte anos mais vinte é o que tenho,
    mulher ocidental que se fosse homem
    amaria chamar-se Eliud Jonathan.
    Neste exato momento do dia vinte de julho
    de mil novecentos e setenta e seis,
    o céu é uma bruma, está frio, estou feia,
    acabo de receber um beijo pelo correio.
    Quarenta anos: não quero faca nem queijo.
    Quero a fome."

    (poema extraído do excelente livro: Adélia Prado, Poesia Reunida, Siciliano)

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