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    terça-feira, fevereiro 12, 2008

    Junguianas

    Fui limpar a flunfa quando notei, dentro do meu umbigo, assim, na lateral, uma pequena verruga. Dei-me conta de que era uma minúscula maçaneta. Improvisando uma lente de aumento com uma bolha de sabão, percebi que havia ali uma mínima porta, onde um cartaz estava colado: 'Inconsciente Coletivo. Favor não mexer'.
    Mas veja só: quem iria pensar que o inconsciente coletivo estava ali, armazenado em meu umbigo? E tem gente que se acha muito importante porque tem o rei na barriga. Há! Não se compara a ter ali, no meu umbigo, como o centro do universo, todo o inconsciente coletivo.

    'Favor não mexer'.

    Uma coceira se fez perceber em meu umbigo: era a curiosidade. Uma luz multicolorida escorria por debaixo da soleira da porta. Pé ante pé, sai - os pingos de água ensopando o tapete - do box, atrás de uma pinça. Com ela, abri a portícula.

    Milhares de imagens começaram a jorrar de meu umbigo! Deuses gregos, dragões, espantalhos, mitos, de um tudo! Como se eu houvesse arrancado a casquinha frágil da espinha infeccionada e o pus escorresse solto e abundante! Tentei tampar aquele fluxo com as mãos, mas as imagens esguichavam entre meus dedos. Nunca mais consegui tirar as manchas multicoloridas de debaixo das unhas.

    O ralo não conseguia dar vazão àquelas imagens. Começaram a encher o box, para onde eu havia corrido, e previ meu fim, afogado em algo que não deveria ter mexido. Eu chorava baixinho quando a Ana entrou no banheiro, abriu o box e, com uma ínfima chave, fechou e trancou meu umbigo.

    Ela me ajudou a lavar o box sem dizer uma palavra. A vergonha não me deixava encarar seus olhos. Minha visão focava a unha do dedão do meu pé.

    Notei algo ali. A princípio, pensei ser um bicho de pé. Ajoelhei-me, bem próximo e levava as mãos à unha, quando a Ana, puxando meus cabelos, me forçou a ficar de pé. Mal tive tempo de ler, ao lado da fechadurinha: "Arquétipos. Mantenha distância".

    5 comentários:

    disse...

    ó quem voltou!
    =)

    disse...

    Opa!
    Não só pode, como deve me linkar!
    Esse blog nunca será deletado. Fiz até promessa a uma pessoa.

    Então, aos poucos, serei menos inconstante! risos!!

    Beijos, querido!!!

    Zitcha disse...

    caraca!
    adorei esse seu post! :)

    eu quero uma portinha no meu umbigoooo!

    queria ter tido um pai com uma cabeça como a sua.. minhas historinhas pra dormir nem me permitiriam pregar os olhos.. ;)

    abraços!

    J.R. Lima disse...

    A privatização do inconsciente coletivo!!

    É, definitivamente, o triunfo do neoliberalismo.

    Muito cuidado com estas portas!

    Augusto Galery disse...

    Pois é, Rodolfo. Mas só depois é que me caiu a ficha: todo mundo tem uma portinha igual! A da Ana, por exemplo, fica na axila esquerda.

    Dá uma procurada aí, provavelmente você vai achar a sua! :-)