Destino de família:
As mãos cortadas.
Minha mãe cortava as dela na cozinha
Picando a carne e os legumes,
Os dedos sempre iam junto.
Era aquela sangüera só!
Todo mundo corria pra acudir,
Ajudar a estancar o sangue.
E ela ficava lá,
De atadura nos dedos
Durante dias e dias.
Tinha orgulho em mostrar:
Ó, Ó, eu cortei o dedo com a faca, Ó!
Já minhas mãos, eu, ou melhor,
Meu gato as cortava em qualquer canto da casa.
O motivo era simples:
Eu queria que ele fosse cachorro
A todo custo.
Ficava apertando sua barriga
Insistindo pr’ele ficar no meu colo.
Claro que eu não conseguia
E ainda ganhava várias
Mordidas e unhadas de gato nas mãos.
Sabe como é
Dente de vampiro, garras afiadas...
Era aquela sangüera só!
E lá ficava eu,
De curativo nas mãos
Durante dias e dias.
De repente, parei de ter orgulho das minhas feridas
Desisti do gato.
Comprei um cachorro.
E foi assim que o destino de família ficou desfeito.
(esta poesia foi selecionada para o Especial da Família, do site Patife, que infelizmente saiu do ar)
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