Fui limpar a flunfa quando notei, dentro do meu umbigo, assim, na lateral, uma pequena verruga. Dei-me conta de que era uma minúscula maçaneta. Improvisando uma lente de aumento com uma bolha de sabão, percebi que havia ali uma mínima porta, onde um cartaz estava colado: 'Inconsciente Coletivo. Favor não mexer'.
Mas veja só: quem iria pensar que o inconsciente coletivo estava ali, armazenado em meu umbigo? E tem gente que se acha muito importante porque tem o rei na barriga. Há! Não se compara a ter ali, no meu umbigo, como o centro do universo, todo o inconsciente coletivo.
'Favor não mexer'.
Uma coceira se fez perceber em meu umbigo: era a curiosidade. Uma luz multicolorida escorria por debaixo da soleira da porta. Pé ante pé, sai - os pingos de água ensopando o tapete - do box, atrás de uma pinça. Com ela, abri a portícula.
Milhares de imagens começaram a jorrar de meu umbigo! Deuses gregos, dragões, espantalhos, mitos, de um tudo! Como se eu houvesse arrancado a casquinha frágil da espinha infeccionada e o pus escorresse solto e abundante! Tentei tampar aquele fluxo com as mãos, mas as imagens esguichavam entre meus dedos. Nunca mais consegui tirar as manchas multicoloridas de debaixo das unhas.
O ralo não conseguia dar vazão àquelas imagens. Começaram a encher o box, para onde eu havia corrido, e previ meu fim, afogado em algo que não deveria ter mexido. Eu chorava baixinho quando a Ana entrou no banheiro, abriu o box e, com uma ínfima chave, fechou e tranc

ou meu umbigo.
Ela me ajudou a lavar o box sem dizer uma palavra. A vergonha não me deixava encarar seus olhos. Minha visão focava a unha do dedão do meu pé.
Notei algo ali. A princípio, pensei ser um bicho de pé. Ajoelhei-me, bem próximo e levava as mãos à unha, quando a Ana, puxando meus cabelos, me forçou a ficar de pé. Mal tive tempo de ler, ao lado da fechadurinha: "Arquétipos. Mantenha distância".