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    segunda-feira, abril 30, 2007

    1001 golins dágua, 6ª visita

    Uma semana depois, me reaparece a pomba. Tomou seu golinho, sentou-se sonhadora na janela e contou: o jovem recém-casado, depois de cantar o amor por sua esposa, depara-se com uma sorridente pele de feijão grudada em seu dente, durante o almoço. O rapaz continua a contar:

    Entrei num choque, acho que compreensível. Foi como ver a primeira gota escorrer pelo nariz de cenoura de um homem de neve carinhosamente construído, fustigado pelo sol do meio-dia. Tive, ao mesmo tempo, nojo e culpa e esses sentimentos entraram num violento conflito, que disfarcei prestando bastante atenção na salada. E continuamos comendo.
    Minha razão foi ganhando terreno. Eu beijava aquela boca várias vezes por dia. Eu colocava minha língua em outros lugares bem menos... bem... visíveis. Eu vinha saboreando cada gosto de cada pedaço daquela mulher. E não seria um pedaço de feijão que venceria a pureza de nosso amor.
    Tomei coragem de olhá-la novamente. Respirei fundo e...
    Uma folhinha de orégano entrou pela minha traquéia.
    Comecei a tossir e busquei, com a mão, o copo d'água. Estava com ela. Peguei-o de sua mão e um calafrio me cortou a espinha. E fora eu mesmo, diabos, que havia sugerido tão romanticamente que usássemos o mesmo copo...
    Agora eu não conseguia olhar para o copo nem para ela. O orégano gargalhava em minha garganta. Reunindo coragem, eu a encarei e - coisa inconcebível a poucos segundos atrás - desejei ver o feijão ainda em seu dente. Foram segundos tensos até que ela disse: "O que foi? Melhorou?"
    Foi o suficiente... O feijão não estava mais lá...
    Estou certo de tê-lo ouvido fazer "pssst", de dentro do copo...

    E, mais uma vez, assustada por um barulho qualquer, a pomba se lançou no espaço, prometendo terminar a história em breve.

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