Não gosto de shows. Acho que o CD é uma ótima invenção: a pessoa pode ficar lá repetindo até acertar e nos dar sua melhor performance. Então, pra que ir vê-la errar ao vivo?
No entanto, nesse domingo, recebemos um convite (mais uma vez, obrigado, Macondos) para um show que me deixou empolgado.
Badi Assad.
No fim do show, a Ana, observando minha boca aberta e o filete de baba, me disse: Viu que show vale a pena???
Eu respondi: Ana, a Badi é a exceção que confirma a regra. Se 10% dos shows tivessem o
ensemble de virtuosismo e emoção que um show desses têm, eu iria, só pela chance. Mas a verdade é que 99,9% dos shows ficam muito abaixo dos cds, o que não é o caso da Badi.
O paralelo que eu faço é o seguinte: eu não sei desenhar. Com muito custo, aprendi a fazer uns rabiscos e chamo isso de "meu estilo". É meu estilo porque é o único que eu sei fazer.
Acho que a maioria dos músicos, hoje em dia, ou tem o "seu estilo", ou são escravos da técnica, como se o virtuosismo fosse o suficiente para fazer música (como é certamente o caso do João Gilberto).
Não é o caso da Badi Assad. Ela consegue fazer a técnica ficar invisível. Não é que ela não esteja lá. Pelo contrário, está tão integrada a tudo que não é necessário nenhuma ênfase nela. O show é tão impecavelmente humano que até os erros se integram perfeitamente. Ela se dá ao direito de esquecer a música e pedir pra platéia ajudá-la a lembrar. "Canta aí, gente, como é que começa a Canção da Partida, do Dorival?"
Sou fã da Badi. O resto do mundo pode vir em cd, mas a Badi! Ela, por favor, venha inteira!